Antes de continuar a leitura, vamos entrar num assunto importante.
Apesar da Rota Normal ser a rota mais fácil para escalar o Aconcágua, e muitas pessoas a descreverem como literalmente uma caminhada até o cume, é quase certo que a cada temporada alguns acidentes – e incidentes – fatais acontecem nessa rota. Para ser mais preciso a média de morte é de 2 pessoas por ano!
Não cometa o mesmo erro!
A rota só tem o termo mais fácil, pois as outras rotas são muito mais difíceis, porém de fácil não tem nada. É uma caminhada árdua que vence um desnível de 2500 metros numa atmosfera rarefeita e sob condições climáticas extremas. Os ventos chegam facilmente aos 50 km/h e a temperatura pode descer aos 30ºC negativos durante a noite.
E apesar de tecnicamente não passar de uma extenuante caminhada, a rota apresenta alguns poucos trechos expostos e armadilhas mortais, principalmente durante a descida quando o corpo e a mente estão fadigados. E isso, sem nos esquecermos que a altitude de 7000 metros é muito inóspita, e por si só, independe de qualquer outro obstáculo para tornar essa ascensão difícil.
A trilha é bem marcada pelo transito constante, mas depois de uma nevada ou durante o “viento blanco”, quando o vento espalha a neve pulverizada, pode ficar muito difícil localizá-la e, como mencionamos, todo o ano apresenta acidentes graves que resultam em inúmeras amputações e, não raro, a morte.
Não seja imprudente! Lembre de respeitar a montanha, seu corpo e todas as condições que o cercarão nessa jornada ao topo da maior montanha das Américas! É por todos estes fatos que recomenda-se que o Aconcágua não seja sua primeira montanha nos Andes.
Rota Normal
A rota normal percorre o vale do rio Horcones a partir da entrada do parque em Puente del Inca, ao lado da Ruta 7, que é a estrada internacional que liga Mendoza na Argentina à Santiago no Chile, pelo famoso “Paso de Los Libertadores”.
O primeiro acampamento da rota normal é Confluência, que recebe este nome por ser o local onde o rio Horcones superior e inferior se encontram. Este acampamento fica numa altitude de 3400 metros, ou seja mais alto que qualquer montanha no Brasil.
A distância da entrada do parque até confluência é de 7 km e a ascensão é de 500 metros. A termos de comparação, 7 km quilômetros é quase a distância total que se percorre para chegar ao Pico Paraná, uma das montanhas mais tradicionais do Brasil e que não é nada famosa por sua “facilidade”. A ascensão vertical de 500 metros é a mesma, por exemplo, que se realiza no também tradicional Pico das Agulhas Negras no Rio de Janeiro.
Como ali a altitude já é elevada e o próximo acampamento é muito distante e ainda mais alto, realiza-se desde este acampamento uma ascensão até Plaza Francia, a 4200 metros, na base da Parede Sul do Aconcágua para auxiliar no processo de aclimatação.
O próximo acampamento, Plaza de Mulas, é o acampamento base do Aconcágua. De Confluência até lá são cerca de 18 quilômetros e atualmente é proibido acampar no meio do caminho, como acampar em qualquer lugar fora dos acampamentos estabelecidos. Neste trecho as mulas são essenciais para transportar os equipamentos, pois além da distância há também o desnível de mil metros.
É a partir de Plaza que começa a escalada propriamente dita. São 2 quilômetros de subida até Plaza Canadá há 5 mil metros. De lá mais 2.5 até Nido de Condores há 5500 metros.
O último acampamento, de onde saímos para fazer o ataque ao cume pode ser tanto Coléra 5985 metros ou Berlin a 5955 metros.
A partir dos acampamentos altos realiza-se uma ascensão em zig zags muito lentos até Plaza Independencia a 6400 metros, onde é importante não manter um ritmo se preservando para não se cansar. Há uma boa possibilidade de descanso protegido dos ventos em Piedras Blancas 6195 metros onde é permitido acampar inclusive.
Em Independencia há uma travessia com perigo de queda que dá na base da temida Canaleta, que como o nome diz é um “canaleta” que dá direto ao à sela que liga o cume Sul ao cume Norte da montanha. Este trecho é muito cansativo quando a montanha está seca, pois ali forma-se os terríveis “acarreos”, que são montes de pedras soltas, onde damos um passo para cima e descemos dois.
Quando a canaleta está nevada, e os montanhistas a pisoteiam, a neve se compacta e vira gelo e é necessário usar crampons, caso contrário o risco de queda devido a escorregões é certo.
Do final da canaleta até o cume são apenas 150 metros de ascensão. Aproveite, dali o teto das Américas está a um passo de ser conquistado.
Conheça no vídeo abaixo uma história de uma escalada no Aconcágua, seus desafios, dificuldades e tudo mais.